quinta-feira, 30 de outubro de 2008
Por Méd. Vet. Angélica Tatarunas
Prof.ª Dra. Julia Matera
O problema da superpopulação de cães e gatos é mundial e atinge a todas as pessoas preocupadas com o bem estar animal ou envolvidas com saúde pública.
Anualmente, milhões de animais são eutanasiados com o objetivo único do controle populacional, independente de sua condição orgânica.
A chamada “esterilização cirúrgica” é o método mais simples e seguro de controle populacional pois permite esterilidade permanente logo após a sua realização.
Convencionou-se que a idade para a realização da castração é após os 6 meses de idade, contudo não existem provas científicas que comprovam esta idade como a ideal para a cirurgia.
No Brasil e no exterior existem várias entidades que recolhem cães e gatos das ruas empregando a castração dos animais com 8 a 12 semanas de idade, ou seja, antes da adoção pois essa atitude otimiza o controle populacional.
A idade da puberdade em cães e gatos é bastante variável (varia dos 6 – 24 meses na cadela; 4 – 21 meses na gata; 6 – 12 meses no cão; 8 – 10 meses no gato), dificultando a sua determinação precisa para a realização da cirurgia (STUBBS & BLOOMBERG, 1995).
É sabido que cadelas castradas antes do primeiro cio possuem apenas 0,5% de risco de vir a desenvolver neoplasia mamária, aumentando para 8% e 26% após o primeiro e segundo cio, respectivamente.
Além do controle populacional, as vantagens da castração na fêmea incluem: ausência de comportamento reprodutivo, pseudociese e doenças do trato reprodutivo; e, no macho evita doenças dos órgãos genitais, comportamentos de agressividade, demarcação de território e fugas com seus conseqüentes danos.
Devido os hormônios gonadais atuarem no desenvolvimento do esqueleto, órgãos reprodutores e comportamento (SALMERI et al.; 1991) vários estudos foram feitos a fim de se avaliar os possíveis efeitos da realização da gonadectomia, ou seja, da castração antes da puberdade.
HERRON (1972) não constatou alterações no diâmetro uretral em gatos após castração pré-puberal nesta espécie.
LIEBERMAN (1987) após rever vários estudos clínicos observou resultados favoráveis a curto e a longo prazo em cães e gatos castrados com 8 a 12 semanas de idade.
SALMERI (1991) após comparar animais castrados com 7 semanas e 7 meses de idade concluiu que a castração realizada em ambas idades determinaram os mesmos resultados no desenvolvimento esquelético, físico e comportamental em cães.
MAY et. al. (1991) realizaram avaliação radiográfica da fise em gatos e observaram fechamento tardio da fise em machos castrados quando comparado com machos inteiros.
CRENSHAW & CARTER (1995) afirmam recuperação anestésica mais rápida em cães castrados entre 6 e 10 semanas de idade com machos inteiros quanto ao desenvolvimento físico e comportamental.
ARONSON & FAGGELLA (1993) após castrarem 96 gatos entre 6 e 14 semanas de idade concluíram ser um procedimento de baixo risco quando precauções e técnica apropriadas são utilizadas.
HOWE (1997) comparou os resultados obtidos a curto prazo de 1213 cães e 775 gatos divididos em três grupos: 12 semanas, 12 a 23 semanas e com mais de 24 semanas de idade, não observou diferenças significativas quanto a morbidade ou mortalidade entre os grupos estudados.
Quando a castração é realizada em pacientes muito jovens devem ser relevados os cuidados como período de jejum, temperatura corpórea no trans operatório, hemostasia meticulosa e manipulação delicada dos tecidos (STUBBS & BLOOMBERG, 1995; ARONSOHN & FAGGELLA, 1993).
Vantagens da gonadectomia incluem menor tempo operatório, melhor visualização do campo cirúrgico, maior facilidade do ato cirúrgico, recuperação anestésica mais rápida e menor morbidade.
Talvez por não estarmos familiarizados com a realização de anestesia e cirurgia em pacientes pediátricos sentimos-nos pouco confortáveis e inseguros com a idéia da gonadectomia. Todavia certos convencionalismos muitas vezes devem ser questionados e reavaliados. Nós, médicos veterinários, devemos buscar o aprimoramento contínuo para o tratamento dos nossos pacientes e quiçá encontrarmos uma forma mais inteligente de lidarmos com a questão da superpopulação de cães e gatos ao invés da eutanásia.
Referências Bibliográficas
ARONSOHN, M.G. & FAGGELLA, A.M. Surgical techniques for neutering 6- to 14-week-old kittens. J.A.V.M.A., vol. 202, n.1, 1993, 53-55.
CRENSHAW, W.E. & CARTER, C.N . Should dogs in animal shelters be neutered early? Veterinary Medicine, 1995, 756-760.
HERRON, M.A. The effect of prepuberal castration on the penile urethra of the cat. J.A.V.M.A., vol. 160, n. 15, 1972, 208-211.
HOWE, L.M . Short-term results and complications of prepubertal gonadectomy in cats and dogs. J.A.V.M.A., vol. 211, n.1, 1997, 57-62.
LIEBERMAN, L.L. A case for neutering pups and kittens at two months of age. J.A.V.M.A., vol. 191, n.5, 1987, 518-521.
MAY, C. et al. Delayed physeal closure associated with castration in cats. Jounal of Small Animal Practice. 32, 1991, 326-328.
SALMERI, K.R. et al. Gonadectomy in immature dogs: effects on sleletal, physical and behavior development. J.A.V.M.A., vol. 198, n.7, 1991, 1193-1203.
STUBBS, W.P. et al. Effects of prepubertal gonadectomy on physical and behavior development in cats. J.A.V.M.A., vol. 209, n.11, 1996, 1864-1871.
STUBBS, W.P. & BLOOMBERG, M.S . Implications of early neutering in the dog and cat. Seminars in Veterinary Medicine and Surgery (Small Animal), vol. 10, n.1, 1995, 8 – 12.
fonte: Clube Amigos dos Animais
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