Quem se importa com a vida dos javalis?

sábado, 17 de outubro de 2009


Por Rosana Vicente Gnipper, presidente Movimento SOS BICHO de Proteção Animal e diretora da Organização Não Governamental Ecoforça, Curitiba-PR
rosanagnipper@gmail.com


Javali, do árabe djabali que significa porco montanhês, é um mamífero da família Suidae, espécie Sus scrofa. É a mais conhecida e a principal das espécies de porcos selvagens. São animais de grandes dimensões. Os machos podem chegar a pesar até 250 kg e as fêmeas 130 kg. Medem entre 125 e 180 cm de comprimento e podem alcançar uma altura de 100 cm. O Javali é o antepassado do que conhecemos como porco doméstico (Sus domesticus ou Sus scrofa domesticus).

É nativo da Europa, Ásia e Norte da África. Foi trazido para a Argentina e Uruguai, entrando no Rio Grande do Sul e outros estados do Brasil com autorização dos órgãos ambientais para criação comercial.

É um animal onívoro (come de tudo) e passa grande parte do dia buscando alimento. Apesar de ter em sua dieta alguns pequenos animais e ovos de aves, dá preferência a raízes, frutos, castanhas e sementes.

Este animal não é territorialista, tendo comportamento bastante sociável reunindo-se em grupos matriarcais, geralmente compostos pelas fêmeas e suas crias.

Aqui no Brasil, a espécie não encontra predadores naturais (o lince e o lobo) e sua população tem aumentado bastante, até porque ele procria com a espécie nativa, o que deu origem ao popularmente conhecido "javaporco".

Estes animais têm sido considerados pragas, destruidores dos territórios onde se instalam, ameçadores da fauna local e de plantações, causadores de doenças à fauna nativa. São acusados de terem fugido por erros de manejo praticados pelos criadores comerciais. Estão tendo a vida ameaçada e a morte por caça decretada, autorizada pelos órgãos ambientais que, fundamentados por leis que permitem o abate a título de manejo ambiental, esqueceram-se de levar em conta todo o teor da lei, que também protege a vida dos animais.

As leis brasileiras que pretendem defender a fauna são especistas e antropocêntricas, ou seja, privilegiam uma espécie em detrimento de outras e contemplam, acima de tudo, o benefício da espécie humana quando se remetem à autorização de abates em situações nas quais a saúde humana, a agricultura e até mesmo todo o complexo meio ambiente podem estar em risco, pela "praga" disseminada.

No Paraná, o IAP - Instituto Ambiental do Paraná, órgão vinculado à Secretaria de Estado do Meio Ambiente e Recursos Hídricos, decretou morte aos javalis no Parque Estadual de Vila Velha e seu entorno, região dos Campos Gerais, sem ter nenhum estudo conclusivo a respeito. Se tem algum estudo feito, não o apresentou, desconsiderando solicitação da Promotoria do Meio Ambiente do Ministério Público Estadual. Fundamenta-se apenas em pareceres de duas técnicas (biólogas) e em um parecer do CONFAUNA - Conselho de Proteção à Fauna, que é um Conselho apenas de caráter consultivo.

Segundo a Portaria do IAP 098/2007, a captura e abate dos animais serão realizados tanto no interior do Parque quanto nas propriedades rurais do entorno. Armadilhas já foram construídas para as capturas e os próprios proprietários rurais é quem deverão, após cadastramento, apresentar os dados sobre os animais abatidos.

Além de tudo, conforme a referida Portaria, Art. 6º - "O produto do abate deverá, obrigatoriamente, permanecer dentro da propriedade" e "Os animais abatidos no interior da Unidade de Conservação devem ser impreterivelmente enterrados no local, sendo proibido o consumo do animal", porém fora da Unidade de Conservação "caso haja o interesse em consumo da carne pelo proprietário, o mesmo poderá fazê-lo, porém o IAP não se responsabiliza pela inspeção sanitária que identifique se a carne do animal é própria ou imprópria ao consumo. Neste caso, o consumo da carne é de próprio risco do proprietário."

É a caça ao javali instalada de forma imoral em nosso estado, legalizada com a justificativa de conservação da biodiversidade local, apoiada por ambientalistas conservacionistas, para os quais a vida de uns não vale nada perante a vida de outros. Visão especista, antropocêntrica e interesseira.

Quem se importa com a vida dos javalis? Nós nos importamos. E talvez nos importamos porque priorizamos a ética, além da técnica.

A cada indivíduo javali sua vida também importa; tanto que, na luta pela sobrevivência, adapta-se e segue com suas crias, sem ter noção de que não é desejado, considerado invasor dos territórios que nós, seres humanos, determinamos serem possíveis para que possam seguir seu destino. Seguem pela sobrevivência, sem ter idéia de que apenas sua morte é desejada, para que suas entranhas sirvam de engorda para seres humanos. Sem saber que não deram lucro para alguns e que, por isso, não têm o direito à vida.


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